22.7.06
Os Alinhamentos Antigos
A última crise no Médio-Oriente, com a dura resposta retaliatória de Israel às acções de guerrilha do Hezzbolaha, permitiu mais uma vez comprovar a lógica dos alinhamentos políticos do tempo da Guerra-Fria.
De novo se fizeram notar as opiniões antecipadamente formadas segundo as simpatias ideológicas, com destaque para as de uma certa Esquerda, que teima em não aprender com o passado.
Esse alinhamento cego, esse espantoso exercício de maniqueísmo político, ainda que na boca dos que se pretendem da Esquerda moderna, é uma das velhas pechas de toda a Esquerda, não só da antiga, da estalinista, mas também da moderna.
Em grande parte, tal fenómeno acontece porque, afinal, os velhos hábitos custam a desaparecer, como bem no-lo recorda um célebre provérbio inglês : old habits die hard – de resto, traduzindo um sentimento que se poderia dizer geral, planetário, mesmo sem ir averiguar a sua presença na cultura dos povos da Terra inteira.
Uma parte ainda muito significativa da Esquerda permanece amarrada ao conceito de opinião solidária, em que, em vez do respeito da verdade, num qualquer assunto particular, o que nela prevalece é o sentido político do mesmo, que, natural e displicentemente, relativiza a verdade.
Durante muitos e bons anos uma imensa coorte de intelectuais, sobretudo parisienses, da rive gauche do Sena, mas com adeptos em todo o mundo, praticou sem pestanejar este execrável critério, que os cegava completamente ante a realidade.
Sartre, um dos príncipes deste sinuoso pensamento, que contorna a verdade para permanecer fiel a uma orientação política, sempre que tal lhe pareça conveniente, foi um dos seus mais emblemáticos cultores, não admirando, por isso, as loas com que tenha saudado a dita Revolução Cultural chinesa, as práticas de censura e de repressão cubanas e outras lindezas do género, que hoje nos deveriam fazer a todos carpir de vergonha e de mágoa, pelos menos àqueles que, numa adolescência romântica, ingénua e, acima de tudo, ignorante acreditaram nalgumas destas reputadas figuras intelectuais.
A esses, ainda lhes restam a desculpa da idade, a natural imaturidade, o facto de viverem então sob um clima de repressão política e também cultural, que agravava a sua compreensível falta de conhecimento e de experiência de vida.
Mas que dizer daquela plêiade de intelectuais, homens maduros, cultos par excelence, usufruindo de todas as liberdades, ali naquele viveiro de ideias, de teorias e de doutrinas, à beira da vetusta e elegante Sobornne ? Como explicar tamanho desacerto de toda essa gente ?
A Sartre, nenhuma das suas incoerentes atitudes políticas jamais lhe prejudicou o imenso prestígio de grande intelectual, de que sempre gozou até ao fim da vida, como símbolo maior do intelectual engagé, escutado e festejado pelos quatro cantos do Planeta.
Ainda o vimos a visitar a nossa realidade revolucionária de 74-75, algo céptico quanto aos caminhos que ela então trilhava, talvez por ela não se lhe apresentar dirigida por uma vanguarda de exaltados guardas chineses, mas por militares recentemente convertidos aos rigores da doutrina revolucionária.
Alguns entre nós, hoje ainda, são herdeiros desta fenomenal cegueira política, que sempre os puxa para as atitudes mais absurdas, que os leva a desculpar o mal, desde que praticado pelos supostos irmãos em ideologia.
Reconhecer isto, não significa passar um atestado de bom comportamento à nossa Direita tradicional, cuja longa conivência com a falta de Democracia, no regime de Salazar-Caetano, claramente não democrático, lhe reduz a autoridade para denunciar com coerência estas práticas da Esquerda acima descritas.
Ainda hoje não temos uma Direita inequivocamente democrática, oscilando entre um populismo, mais ou menos trauliteiro e um conservadorismo envergonhado.
Depois, das desistências de Adriano Moreira, de Freitas do Amaral e de Lucas Pires e do desaparecimento do malogrado Adelino Amaro da Costa, não surgiu ainda um líder credível, capaz de orientar o CDS no sentido político de uma Direita convictamente democrática.
A liderança de Paulo Portas, que chegou a ter algum êxito eleitoral, acabou por trazer ao CDS uma mudança de rumo que desvirtuou a sua cultura política tradicional.
O súbito apagamento de Paulo Portas acentuou a oscilação política do CDS, quanto à sua definição ideológica, com a sua mera gravitação em torno do núcleo doutrinário neo-liberal, o que não adianta grande coisa, porque, hoje, até o PS já lá navega mar dentro.
O centro político PS-PSD, que tem dominado a cena política nos últimos trinta anos, apresenta-se esgotado, desacreditado pela fraca qualidade dos seus conhecidos intervenientes, quer de um ponto de vista técnico, quer de um ponto de vista ético, tendo, em conjunto, gerado a situação degradada em que nos encontramos.
Esta área política necessita de urgente revitalização, que deveria passar pela sua refundação completa, de raiz. Sente-se de forma difusa a sua necessidade, mas falta achar as figuras credíveis, prestigiadas e impolutas que a possam protagonizar.
Terão de se apresentar de mãos limpas, sem mácula ou compromisso, político ou moral, com a actual degradação, para lograrem a indispensável confiança da restante Comunidade Nacional, hoje, desorientada, atónita e já muito céptica, após as sucessivas decepções acumuladas nos últimos trinta anos.
Ainda não se percebeu bem em que sentido a Política portuguesa vai evoluir nos próximos tempos, mas certamente que o presente estado de indefinição ideológica, com o consequente apodrecimento de toda a vida política não há-de durar eternamente.
A situação começa a ficar madura para acolher alternativas políticas. Tudo depende da ousadia de uns quantos e da força moral que consigam despertar e agregar pelo País fora.
Se houver vontade em reunir gente de carácter, competente nos seus misteres, disposta a bater-se por ideais, com sentido de missão, pode haver esperança para Portugal.
Se esta vontade não surgir, não se vê como o País há-de melhorar.
AV_Lisboa, 22 de Julho de 2006
De novo se fizeram notar as opiniões antecipadamente formadas segundo as simpatias ideológicas, com destaque para as de uma certa Esquerda, que teima em não aprender com o passado.
Esse alinhamento cego, esse espantoso exercício de maniqueísmo político, ainda que na boca dos que se pretendem da Esquerda moderna, é uma das velhas pechas de toda a Esquerda, não só da antiga, da estalinista, mas também da moderna.
Em grande parte, tal fenómeno acontece porque, afinal, os velhos hábitos custam a desaparecer, como bem no-lo recorda um célebre provérbio inglês : old habits die hard – de resto, traduzindo um sentimento que se poderia dizer geral, planetário, mesmo sem ir averiguar a sua presença na cultura dos povos da Terra inteira.
Uma parte ainda muito significativa da Esquerda permanece amarrada ao conceito de opinião solidária, em que, em vez do respeito da verdade, num qualquer assunto particular, o que nela prevalece é o sentido político do mesmo, que, natural e displicentemente, relativiza a verdade.
Durante muitos e bons anos uma imensa coorte de intelectuais, sobretudo parisienses, da rive gauche do Sena, mas com adeptos em todo o mundo, praticou sem pestanejar este execrável critério, que os cegava completamente ante a realidade.
Sartre, um dos príncipes deste sinuoso pensamento, que contorna a verdade para permanecer fiel a uma orientação política, sempre que tal lhe pareça conveniente, foi um dos seus mais emblemáticos cultores, não admirando, por isso, as loas com que tenha saudado a dita Revolução Cultural chinesa, as práticas de censura e de repressão cubanas e outras lindezas do género, que hoje nos deveriam fazer a todos carpir de vergonha e de mágoa, pelos menos àqueles que, numa adolescência romântica, ingénua e, acima de tudo, ignorante acreditaram nalgumas destas reputadas figuras intelectuais.
A esses, ainda lhes restam a desculpa da idade, a natural imaturidade, o facto de viverem então sob um clima de repressão política e também cultural, que agravava a sua compreensível falta de conhecimento e de experiência de vida.
Mas que dizer daquela plêiade de intelectuais, homens maduros, cultos par excelence, usufruindo de todas as liberdades, ali naquele viveiro de ideias, de teorias e de doutrinas, à beira da vetusta e elegante Sobornne ? Como explicar tamanho desacerto de toda essa gente ?
A Sartre, nenhuma das suas incoerentes atitudes políticas jamais lhe prejudicou o imenso prestígio de grande intelectual, de que sempre gozou até ao fim da vida, como símbolo maior do intelectual engagé, escutado e festejado pelos quatro cantos do Planeta.
Ainda o vimos a visitar a nossa realidade revolucionária de 74-75, algo céptico quanto aos caminhos que ela então trilhava, talvez por ela não se lhe apresentar dirigida por uma vanguarda de exaltados guardas chineses, mas por militares recentemente convertidos aos rigores da doutrina revolucionária.
Alguns entre nós, hoje ainda, são herdeiros desta fenomenal cegueira política, que sempre os puxa para as atitudes mais absurdas, que os leva a desculpar o mal, desde que praticado pelos supostos irmãos em ideologia.
Reconhecer isto, não significa passar um atestado de bom comportamento à nossa Direita tradicional, cuja longa conivência com a falta de Democracia, no regime de Salazar-Caetano, claramente não democrático, lhe reduz a autoridade para denunciar com coerência estas práticas da Esquerda acima descritas.
Ainda hoje não temos uma Direita inequivocamente democrática, oscilando entre um populismo, mais ou menos trauliteiro e um conservadorismo envergonhado.
Depois, das desistências de Adriano Moreira, de Freitas do Amaral e de Lucas Pires e do desaparecimento do malogrado Adelino Amaro da Costa, não surgiu ainda um líder credível, capaz de orientar o CDS no sentido político de uma Direita convictamente democrática.
A liderança de Paulo Portas, que chegou a ter algum êxito eleitoral, acabou por trazer ao CDS uma mudança de rumo que desvirtuou a sua cultura política tradicional.
O súbito apagamento de Paulo Portas acentuou a oscilação política do CDS, quanto à sua definição ideológica, com a sua mera gravitação em torno do núcleo doutrinário neo-liberal, o que não adianta grande coisa, porque, hoje, até o PS já lá navega mar dentro.
O centro político PS-PSD, que tem dominado a cena política nos últimos trinta anos, apresenta-se esgotado, desacreditado pela fraca qualidade dos seus conhecidos intervenientes, quer de um ponto de vista técnico, quer de um ponto de vista ético, tendo, em conjunto, gerado a situação degradada em que nos encontramos.
Esta área política necessita de urgente revitalização, que deveria passar pela sua refundação completa, de raiz. Sente-se de forma difusa a sua necessidade, mas falta achar as figuras credíveis, prestigiadas e impolutas que a possam protagonizar.
Terão de se apresentar de mãos limpas, sem mácula ou compromisso, político ou moral, com a actual degradação, para lograrem a indispensável confiança da restante Comunidade Nacional, hoje, desorientada, atónita e já muito céptica, após as sucessivas decepções acumuladas nos últimos trinta anos.
Ainda não se percebeu bem em que sentido a Política portuguesa vai evoluir nos próximos tempos, mas certamente que o presente estado de indefinição ideológica, com o consequente apodrecimento de toda a vida política não há-de durar eternamente.
A situação começa a ficar madura para acolher alternativas políticas. Tudo depende da ousadia de uns quantos e da força moral que consigam despertar e agregar pelo País fora.
Se houver vontade em reunir gente de carácter, competente nos seus misteres, disposta a bater-se por ideais, com sentido de missão, pode haver esperança para Portugal.
Se esta vontade não surgir, não se vê como o País há-de melhorar.
AV_Lisboa, 22 de Julho de 2006
Comments:
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Ya que a Zapatero le gusta tanto hablar de "Territorios Ocupados" en Palestina, ¿No sería ahora el momento para recordarle el tema de Olivença/Olivenza?
Bem observado, por este arguto anónimo, nuestro vero hermano, como suponho. Que volte mais vezes, porque nada me move contra Espanha ou contra os espanhóis, em geral, com quem, aliás, fiz muita amizade fora de Portugal. Apenas defendo, em relação a Olivença, o ponto de vista de Portugal, que é, de resto, o legal, sustentado de jure por Tratado Internacional, que a Espanha está obrigada a cumprir desde 1815.
Como você escreveu desde o dia 15 de junho, última vez em que aqui estive!
Confesso que vi todos os textos, mas só li este precioso texto aqui do qual separo uma expressão que você usou ("cegueira política" - parecem estar todos brincando de "Cabra Cega", conhece?) E um parágrafo: "Se houver vontade em reunir gente de carácter, competente nos seus misteres, disposta a bater-se por ideais, com sentido de missão, pode haver esperança para Portugal." - Não, amigo! Não apenas para Portugal, para o Planeta Terra...
MUITOS ABRAÇOS,
Ilmara.
Confesso que vi todos os textos, mas só li este precioso texto aqui do qual separo uma expressão que você usou ("cegueira política" - parecem estar todos brincando de "Cabra Cega", conhece?) E um parágrafo: "Se houver vontade em reunir gente de carácter, competente nos seus misteres, disposta a bater-se por ideais, com sentido de missão, pode haver esperança para Portugal." - Não, amigo! Não apenas para Portugal, para o Planeta Terra...
MUITOS ABRAÇOS,
Ilmara.
Caro amigo, estou de volta depois de um longo período de afastamento causado por motivos profissionais. mas é sempre bom ler uma correta avaliação da crise do oriente médio. aqui também sofremos do mal que vc cita em seu post. nossa imprensa parece ter escolhido o lado do terror. poucos deixam de lado o sectarismo e comentam isentamente. parabéns mais uma vez. espero contar novamente com su sempre bem vinda amizade. grande abraço.do amigo brasileiro. Carlos (www.basilides.blogger.com.br)
Ser de direita é colocar em primeiro lugar a continuação de Portugal como ESTADO/NAÇÃO com cidadãos ligados por laços de sangue, única forma de o conseguir manter a salvo de qualquer tipo de crise.
A actual crise de identidade e económica é o resultado do deixa andar de muitos e muitos anos, com especial relevância para o nivelamento por baixo na educação e a não devida valorização do empreendedorismo na sociedade.
Parece que a esquerda queria entrar num comunismo de estado empregando toda a gente no mesmo...o que fez estourar tudo e ainda não acabou...
A actual crise de identidade e económica é o resultado do deixa andar de muitos e muitos anos, com especial relevância para o nivelamento por baixo na educação e a não devida valorização do empreendedorismo na sociedade.
Parece que a esquerda queria entrar num comunismo de estado empregando toda a gente no mesmo...o que fez estourar tudo e ainda não acabou...
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